O mistério da mulher da Rua 7.

Sofia é uma mulher loira de cabelos longos até a cintura, usa batom vermelho sabor morango, e ainda gosta de se sentar a beira da janela de sua casa e tocar violão. Não há um homem que passe por sua rua e não a admire, afinal não é sempre que se ver uma mulher linda como ela tocando violão.
    
      Sofia tem um sorriso lindo, e os olhos azuis como o céu em um dia ensolarado, ela possui um charme especial. Tem uma mágica na maneira de falar, e quando canta no som de seu instrumento os pássaros pousados nas arvores, fazem para ela uma grande orquestra de coral ao canto dos passarinhos.
      
           Sofia é graciosa, linda e estonteante, o sonho de esposa para qualquer homem em seu estado normal. Ela cheira bem, é culta e bem letrada. Quem é que não queria se casar com Sofia?  Outro dia um rapaz parou em frente a sua casa, e ficou ali admirando os dons e a beleza da mulher. Ele estava de bicicleta, e debruçado sobre o guidão com as mãos segurando o queixo, e ouvia os doces acordes vindos da casa de linda mulher.  Ali ficou, e ouviu uma, duas, três canções que Sofia com muito louvor entoou. Quando ela terminou, ele disse: “Doce senhora, toque mais uma para mim? Nunca ouvi uma voz tão bela e doce, uma melodia tão suave e uma harmonia tão bem composta como conjunto dos seus dotes”.
A Rua 7 era uma rua com arvores, com flores na calçada, casa com jardins e quando a noite caia era um lugar bem iluminado. A casa de Sofia, era a casa mais harmônica da região. A casa mais florida também, e a que possuía a mais bela das flores que era a própria Sofia. 
      
Sofia tinha 33 anos, porque nunca se casou ou se quer tinha um namorado? O seu companheiro inseparável era o seu violão, e as suas melhores amigas eram as canções.  O rapaz magricelo de óculos quadrado e cabelo de Nerd não era o primeiro a parar e tentar falar com a mulher.
       
Sofia ao ouvir o pedido do rapaz ficou assustada, pois sabia que alguém mais tinha escutado também o seu pedido. Imediatamente, ela começou a sinalar com as mãos para que o rapaz corresse em disparada com o seu camelo. Já o rapaz, permanecia imóvel gesticulando os braços como quem diz: “correr, correr pra quê?”.

       Sofia entrou em desespero, quando ouviu os passos dentro de sua casa. Era o seu pai, correndo feito um dinossauro velho, segurando uma espingarda de dois canos enferrujada e rabugenta, pronta para por para fora um monte de ferrugem junto com as balas. Essa era uma herança do avô da moça guardada com o pai desde 1930.  Aí estava à explicação o porquê a moça não tinha um namorado ou a possibilidade de um dia entrar numa igreja de véu e grinalda.
        
O velho tirano Rex chegou até a porta, abriu bruscamente, e apontou a velha socadeira de dois canos para o rapaz (esse tipo de arma se o atirador errar é o famoso ditado que se cumpre: “um tiro e uma corrida”).  Com muita ira e cólera, babando com um cão raivoso o velhote grita e esbraveja: _ “Seu moleque assanhado, pervertido, metido a garanhão e a conquistador barato, seu Don Juan das calças frouxas, eu vou fazer dois buracos na tua carcaça se você não sair daqui agora!” E o velho autoritário cheio de marra e sermões engatilhou a velha tranqueira. Já a bela Sofia tapou os olhos com as mãos, e o rapaz surpreendentemente desce de seu veiculo ecologicamente correto e chama atenção do homem com o trambolho nas mãos: “Escuta aqui coroa.”  O velho por um instante arregala os olhos,  admirando a coragem do magricelo que caminhando em direção a morte vai argumentando e apontando o dedo para o pai rabugento. “O senhor pensa só porque tem uma socadeira velha, acha que pode sair intimidando todo mundo por ai? Oh coroa comigo não! Quer atirar? Então atira. Vai! Qual é mer-mão, quer guardar a tua filha na vitrine?” O velho engole a saliva e rosna feito um tigre.  

      Os olhos azuis de Sofia a este momento já não são mais tão azuis, e brilhantes, pois o temor, e o medo fizeram inundar lágrimas de aflição em seu lindo olhar, deixando assim um envolto avermelhado em seu lindo rosto.
    
      O velho que estava com o artefato de museu apontada para o peito do rapaz, agora já mais sereno, baixa pedaço de ferrugem de dois canos e diz: “Rapaz” (nesse momento há uma tensão, Sofia em soluços e aos prantos olha apavorada para o pai que calmamente continua a falar.) “Há 18 anos eu tenho posto uns marmanjões para correr de frente da minha casa, todos eles sempre vieram com a mesma cantada barata para querer iludir a minha filha, e sempre que saia aqui fora com a Julieta (o nome que o velho deu a espingarda) todos eles corriam feito galinhas. E você me enfrentou, por isso, se me filha quiser ela pode ser a sua esposa”.
      
        Sofia sorrir, não acredita no que acabara de ouvir, o sorriso da moça é tão intenso e brilhante que ofusca o próprio sol, que envergonhado se esconde entre as nuvens, ela sai e fica junto do rapaz e do velho pai, ela também está admirada pela coragem do Nerd.

      O velhote interrompe o breve momento de silencio e diz: “Então, meu rapaz, creio que a minha filha, já disse sim para você. Não vai dizer nada?” O rapaz olha para Sofia, contempla a beleza da moça olha nos olhos do pai guardião e solta a pérola: “Senhor, a sua filha é muito bonita sem duvidas, será um prazer tê-la como minha esposa. Mas, na verdade, na verdade eu só queria mesmo que ela cantasse outra canção para eu ouvir, pois eu acho que ela deu uma desafinada numa das canções que ela tocou, eu queria ter a certeza se ouvi bem ou se foi alucinação.

Crônicas de Márcio Nato



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