Uma Crônica de Natal

Um menino saiu à rua e viu que começava a nevar, percebeu que as folhas das árvores estavam cinzentas e que os pássaros não estavam mais em seus galhos a cantar. 

O garoto olhou adiante e viu que a rua em que estava ficava ainda mais branca, e não demorou muito para tudo ficar da cor da paz e também, é claro, para a sua mãe o chamar para dentro: “Samuel”, disse a mãe do menino, “vem se agasalhar, começa a ficar muito frio”. Por um instante, Samuel deixa-se levar em seus pensamentos em direção da cena que vê. Contempla os meninos e homens que moram nas ruas, ele vislumbra aquela cena triste e solitária que vivem os menos afortunados que não tem onde se esconder do frio, e nem dos flocos de neve que caem do céu feito algodão.

Obedecendo, à mãe, entra em sua casa com um mundo de questionamento em sua pequena cabecinha, cheia de grandes pensamentos: “Mamãe”, diz ele, “porque há crianças assim como eu que moram na rua? E aqueles homens enrolados em sacos de panos, porque eles não têm quem o chamem para dentro e assim saírem do frio?” 

A mãe do menino respira fundo, e pensa numa resposta satisfatória para o filho, com um olhar distante, ela se remete ao passado e lembra que este é um problema que muito se arrasta por entre as entranhas de uma cidade envolta pelo capitalismo predatório. “Filho, muitas pessoas moram nas ruas porque não tem onde morar, outras perderam tudo o que tinham, algumas estão afundadas no mundo das drogas e do álcool, e o nosso regime de governo nos obriga a lutar pela nossa sobrevivência, e muitas vezes se não nos atentarmos podemos cair nas mesmas condições”.

É Noite de Natal

O menininho, com um olhar triste e insatisfeito com a resposta, fixa olhar para sua mãe e diz: “Mãe, essa noite é noite de Natal, porque a gente não amplia o nosso regime a esses necessitados e os convidamos para cear conosco? Acho que o governo não vai se importar se dividimos o que temos com quem precisa, não é mamãe?” Ela olha para o garoto com olhar de ternura e amor, e diz: “O filho meu, meu pequeno Samuel, pedaço importante do meu ser e quem completa a minha vida. Quem dera se todas as famílias da terra tivessem uma jóia como você para nos abrir os olhos contra o nosso próprio egoísmo. É verdade meu filho”, continua ela, “nós fazemos tanto pelo governo, pagamos impostos exorbitantes, e não vemos esses impostos sendo revestidos em prol de nossa sociedade, tudo é calamidade: a educação, saúde em fim tudo é caos. Meu pequeno Samuel, essa noite teremos visitas diferente em nossa ceia de Natal”. 

Porque choras

Samuel sorrir, abraça a mãe e a beija ternamente, no conforto do braço da mamãe o menino chora. A mãe preocupada com as lágrimas que escorrem dos olhinhos de Samuel, pergunta “porque choras agora meu doce, não gostou da idéia de convidar os que têm menos para comer conosco?” “Sim mamãe, eu gostei!” diz ele, “então porque choras meu príncipe?” Perguntou a mãe, “porque” responde ele, “ao passar essa noite, e outras noites, eles estarão famintos e com frio novamente sem que o governo que engorda com os nossos impostos olhe por eles”.


Poesias & Crônicas de Márcio Nato

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