O Caso da Falsa Dançarina da Dança do Ventre

Ola! Sou o detetive Olho Vivo. E, essa história que vou contar para vocês aconteceu comigo em meado de 1959. Já estava tarde da noite, eu estava revendo alguns documentos de casos que investigava.

Era uma noite 14 de junho.  Lembro-me bem que, naquele dia trabalhei exaustivamente no caso de um corno sabido da região da Cidade Azul.  A mulher do cara dava pra todo mundo. E ele ficava quieto e, ainda, aguentando caladinho, todos os desaforos e arrogância da parte dela.

Mas um dia, o cunhado dele pegou a galinha – na hora que ia por ovo – e acabou com a festa dela. Daí por diante, ela passou a comer na mão do corno. Porém, essa é uma outra história... E só falei isso para contextualizar vocês...

Então, naquela noite escura e sem luar, eis que alguém em minha porta toca. Deveria ser lá por volta das 22h45min, quando chegou em meu escritório uma loira de olhos verdes, com o traseiro que parecia um caminhão bi-trem.  

Bem falastrona e articulada ela perguntou:_ O senhor é o detetive Olho Vivo?

Olhei para ela e apontei para a plaquinha com meu nome sobre a mesa e disse:_ O que está escrito nesta placa, senhorita? Sabe ler?  E ela me olhou com aqueles olhos caídos e disse, “sim”.

Perguntei em que podia ajudá-la, o porquê de ela me procurar tão tarde da noite.   Ela disse que, alguém teria roubado a roupa de Khadija dela e queria que eu ajudasse a encontrar o larapio que fizera isto.

Fiz mais algumas perguntas para aquela tampinha de 1,60 de altura, e com o peso de quase uma tonelada. Sinceramente, devo-lhes dizer que, fiquei desconfiado da história daquela moça.

Pensei com os meus botões: “Como pode uma dançarina ter um corpo tão irregular?”, todavia, ela havia me informado que, já há alguns anos, padecia de uma doença séria e grave e que talvez, teria pouco tempo de vida.

Ela ainda contou que tinha uns cachorros da raça boxes, mas que devido à doença que lhe afligia, ela os teria dado para uma amiga que, segundo ela, era médica. 

Logo, ela começou a falar bastante dessa suposta médica. Argumentou, que a moça havia feito umas três ou quatro faculdades. Inclusive uma delas teria sido concluída nos Estados Unidos da América. 

Confesso a vocês que, achei que aquela loira, cheia de pompa, estava viajando. Novamente pensei, mas agora, com os meus bigodes, “ela deve ter fumados uns baseados”.  

Aquela galega falava igual a uma metralhadora descontrolada.  Vi muita viagem na maionese das coisas que ela dizia, era muito fora da casinha. Aquilo tudo, me cheirava a uma grande, mega e espetacular mentira.

Bem, mesmo assim, decidi pegar o caso...

Uma semana depois, liguei para aquela mulher de cabelos dourados e pedi que viesse até meu escritório.

Ela chegou alvoroçada, ansiosa para saber se eu tinha notícias, ou encontrado o paradeiro da suposta roupa de dançarina dela. “Então, detetive, o que o senhor descobriu?”, ela perguntou.   

Eu apenas olhei pra ela e disse:_Venha comigo, “tanajura”. Ela entrou comigo no meu caranguejo caindo aos pedaços. Aquela mulher – não sei o que ela tinha dentro do corpo – não parava de falar um só segundo.

A todo o instante me perguntava: “Estamos chegando, o senhor encontrou?”. E isso, fora os absurdos que ela falava da vida dela, o que tinha sido e feito, etc e tal.

Finalmente chegamos ao local de destino. Ela olhou, arregalou os olhos e perguntou:_Meu vestido está nesse lugar, detetive?
Eu só respondi:_Venha, me acompanhe...

Ao entrar sinalizei para dois brutamontes que estavam vestindo uniformes brancos. Eles vieram, seguram-na e deram-lhe uma injeção. Logo em seguida, puseram-lhe uma camisa de força e a internam-na.  

Na verdade, eu a levei numa clínica patológica, ou seja, para doentes mentais.

Descobri que tudo que aquela loirinha tinha falado, não passa de uma mentira chula e barata.

O tal vestido que ela dizia ser dela, na verdade, era de uma das amigas dela, que realmente fazia a tal dança do ventre.

Outra mentira, era sobre os boxes. Ela nunca teve nenhum cachorro dessa raça, há não ser um poodle fêmea de cor laranja.  

No fim de tudo descobri que, ela era “tetéca” da ideia. O “Tico e o Téco” daquela cabeça, não batiam bem.

Ela queria fazer da vida de uma das amigas, a vida dela. Houve até suspeitas de programas no passado. Ah! E a suposta médica, nada mais era do que uma bela e linda inteligente enfermeira.

Lá a onde ela está agora, terá muitas histórias para inventar e contar como se realmente se fosse à vida dela.

E assim, resolvi o caso da “Falsa dançarina da dança do ventre” e provei que por mais bem contada que seja, a mentira logo encontra o fim. Até próxima pessoal, o telefone está tocando.

Poesias & Crônicas de Márcio Nato

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